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01/08/2025Você já se perguntou por que certos pacientes parecem reagir de forma intensa e automática a situações interpessoais aparentemente neutras?
A Terapia do Esquema (TE) tem a resposta: os esquemas precoces desadaptativos (EID), padrões emocionais e cognitivos persistentes e disfuncionais, desenvolvidos na infância quando necessidades emocionais básicas não são atendidas. Eles são reforçados ao longo da vida emoldam a forma como muitos pacientes percebem e reagem ao mundo — especialmente nas relações interpessoais.
Mas o que talvez muitos psicólogos ainda não saibam é que esses esquemas não são apenas construções teóricas. Eles têm correspondência com padrões de ativação cerebral super bem documentados pela neurociência.
O cérebro e seus esquemas sociais
Estudos de neuroimagem têm mostrado que experiências precoces de rejeição, negligência ou crítica crônica alteram a atividade de áreas cerebrais importantes, como a amígdala, córtex pré-frontal ventromedial e a rede de saliência — regiões esistemas envolvidos na detecção de ameaça, regulação emocional e atribuição de significado social.
Por exemplo, pessoas com história de abandono ou abuso emocional na infância, tendem a apresentar hiperativação da amígdala ao visualizar expressões faciais ambíguas ou críticas. Em termos da TE, isso se alinha ao conceito de esquema de Desconfiança/Abuso ou Abandono/Instabilidade, quando o cérebro tende a interpretar sinais sociais como ameaçadores, mesmo quando o perigo real está ausente.
Vinheta clínica (ilustrativa)
Marina, 32 anos, buscou a terapia do esquema com um histórico recorrente de relações afetivas marcadas por ciúmes, medo de ser deixada e crises de ansiedade quando o parceiro se mostrava emocionalmente distante. Ela conta:
“Basta ele demorar para responder uma mensagem, e eu já sinto que vai terminar comigo. Eu entro em parafuso e fico paralisada”
Na avaliação identificou a presença de um esquema de Abandono/Instabilidade, reforçado por vivências infantis de ausências imprevisíveis e pouca responsividade emocional da mãe. Em paralelo, Marina relata hipervigilância em ambientes sociais e interpretações hiperbólicas de rejeição.
Ao explorar essas experiências na terapia, utilizando técnicas como imaginação guiada e reestruturação empática, foi possível não apenas reduzir a ativação emocional, mas também trabalhar o esquema disfuncional. Além de efetivas,essasintervenções têmbase em achados da neurociência, pois a reformulação de memórias emocionais literalmente “reprograma” os circuitos cerebrais associados à ameaça social.
O que isso significa para o clínico?
A Terapia do Esquema permite ao psicólogo compreender que certos padrões emocionais não são “exageros” ou “defeitos de caráter”, mas sim expressões profundas de um sistema de proteção aprendido e biologicamente enraizado. Essa perspectiva amplia nossa compreensão sobre as dificuldades emocionais e traz mais compaixão — tanto para o paciente quanto para o terapeuta.
Curioso para saber mais?
A cada dia cresce o número de indicações para asintervenções da Terapia do Esquema entre elas destacamos, casos complexos de ansiedade, dificuldades de relacionamento de casal, transtornos de personalidadeboderline e traumas precoces. No IPTC, oferecemos cursos intensivos e avançados que exploram essas interfaces entre teoria, técnica e neurociência.
REFERÊNCIAS
- Dannlowski, U., Kugel, H., Huber, F., et al. (2013). Childhood maltreatment is associated with an automatic negative emotion processing bias in the amygdala. HumanBrain Mapping, 34(11), 2899–2909.
(Hiperativação da amígdala em pessoas com histórico de abandono ou rejeição)
- Lane, R. D., Ryan, L., Nadel, L., & Greenberg, L. (2015). Memory reconsolidation, emotional arousal, and the process of change in psychotherapy: New insights from brain science. Behavioral and BrainSciences, 38, e1.
(Reestruturação de memórias emocionais e neuroplasticidade em psicoterapia)
- Schore, A. N. (2001). Effects of a secure attachment relationship on right brain development, affect regulation, and infant mental health. Infant Mental Health Journal, 22(1-2), 7–66.
(Neurociência do apego e sua relação com esquemas)
GLOSSÁRIO
Terapia do Esquema (TE)
Modelo integrativo que combina TCC, psicodinâmica e teoria do apego para tratar padrões emocionais profundos formados na infância.
Amígdala
Estrutura cerebral profunda, ligada à detecção de ameaças e ao processamento rápido de emoções como medo e raiva.
Córtex Pré-Frontal Ventromedial (vmPFC)
Região do cérebro envolvida na regulação emocional, tomada de decisões sociais, com base em valores e vínculos.
Rede de Saliência
Conjunto interligado de regiões corticaisque ajuda a detectar o que é emocionalmente importante no ambiente para direcionar a atenção.
Esquema de Desconfiança/Abuso
Padrão emocional e cognitivo caracterizado pela expectativa de que os outros vão machucar, abusar ou enganar. Formado geralmente em contextos de abuso, negligência ou traições afetivas precoces.
Esquema de Abandono/Instabilidade
Padrão caracterizado pelo medo intenso de ser deixado ou perder pessoas importantes, com sensação constante de que os vínculos são frágeis ou que o outro irá se afastar. Costuma estar presente no transtorno de personalidade boderline.
Técnica de Imaginação Guiada
Intervenção da Terapia do Esquema em que o paciente é convidado a revisitar mentalmente memórias emocionais, permitindo vivências reparadoras em segurança.
Técnica de Reestruturação Empática
Estratégia terapêutica em que o profissional valida com empatia os sentimentos de vulnerabilidade do paciente, ao mesmo tempo em que confronta gentilmente os modos disfuncionais atuais. Oferece um equilíbrio entre acolhimento emocional e orientação para mudança.