O crescimento da Psicoterapia Online e a adaptação da Terapia Cognitivo Comportamental a esta nova modalidade

Em nosso mundo altamente tecnológico, as novas formas de comunicação são disseminadas rapidamente e passam a fazer parte dos mais distintos contextos. Desde a forma como produzimos alimento, até a maneira como frequentamos ambientes de ensino, estão sofrendo alterações de acordo com o aumento da comunicação via internet. Da mesma maneira, a Psicologia e os estudos do comportamento humano também mostram adaptações influenciadas pelo acesso aos mecanismos online.

Em setembro de 2021, cerca de 40% dos psicólogos cadastrados no Conselho Federal de Psicologia estavam habilitados para realizar atendimentos online. Ou seja, quase metade dos profissionais da psicologia no Brasil estavam realizando psicoterapia via internet. Claro que essa alta porcentagem deve muito à pandemia da Covid-19, que além de ser responsável pelo aumento da busca por acompanhamento psicológico, alavancou as formas de comunicação e interação online. Porém, mesmo com o fim do período pandêmico, nota-se que a prática da psicoterapia via internet permaneceu forte no âmbito clínico psicológico.

Diante do exposto, é necessário nos questionarmos: a psicoterapia online substitui a psicoterapia presencial? E mais, a Terapia Cognitivo Comportamental se adapta a esta modalidade? Claro que são muitos fatores que precisam ser avaliados para que seja possível responder a essas perguntas, porém o intuito desse texto é analisarmos alguns dos pontos positivos e negativos que já foram estudados a respeito da psicoterapia online, principalmente em relação a Terapia Cognitivo Comportamental.

Compreendemos como atendimento psicológico online os serviços realizados por meio de mensagens instantâneas, áudio, videoconferência, software de comunicação via internet, chat, câmera e e-mail. Pinto (2002) destaca muitos pontos positivos sobre a modalidade de psicoterapia online. Entre eles, a terapia online pode ser extremamente vantajosa para pessoas que vivem em regiões sem acesso a psicólogos ou que enfrentam dificuldades para sair de casa, como idosos, pessoas com deficiências físicas ou transtornos que impedem a continuidade do tratamento presencial. Um exemplo é o programa FearFighter, oferecido a moradores de áreas rurais da Escócia para tratar pânico e fobia. Os pacientes recebem uma senha no posto de saúde, permitindo acesso ao programa de casa durante dez semanas, com suporte telefônico de um terapeuta quando necessário. Semanalmente, um terapeuta liga para acompanhar o progresso dos pacientes. Ao final do tratamento, os participantes relataram melhoras significativas em relação ao início.

Além disso, Day e Schneider realizaram um estudo comparativo na Inglaterra em 2002, no qual participaram 80 pacientes. Através da pesquisa, foi possível verificar que grupos online apresentaram maior nível de participação do cliente no que diz respeito ao nível de atividade, iniciativa, confiança, espontaneidade e desinibição, quando comparado à terapia tradicional. Isso acontece principalmente quando a modalidade online adapta-se às necessidades do sujeito.

Por outro lado, Pinto (2002) pontua que a psicoterapia via internet traz dificuldades para o rastreamento de pistas não verbais sinalizadas pelo paciente, como entonação da voz, silêncios, pausas e movimentos corporais. Muitas vezes, falhas na conexão com a internet podem causar a perda de algum elemento importante para a correta percepção do terapeuta. Também o desconhecimento da ferramenta tecnológica utilizada pode refletir na qualidade da sessão. 

Contudo, estudos realizados por Fishkin, Fishkin, Leli, Katz e Snyder (2011) demonstram que a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) online apresenta resultados semelhantes aos da TCC presencial, tanto em sessões individuais como em grupo. Os mesmos estudos evidenciaram, em algumas situações, a TCC online pode ter resultados superiores quando comparada a outras terapias presenciais. Além disso, outra pesquisa, realizada por Cuijpers, Donker, van Straten e Andersson (2009) comparou os resultados da TCC nas modalidades online e presencial não encontrando diferenças significativas entre ambas.

Podemos concluir que definir a terapia presencial como sinônimo da terapia online não seria correto, pois elas são realizadas de formas diferentes, mesmo obtendo resultados semelhantes. No entanto, o que podemos afirmar com segurança é que, cada vez mais, estudos científicos comprovam a eficácia da psicoterapia via internet. Manter uma visão restrita à clínica tradicional pode significar perder a oportunidade de expandir a psicoterapia para novos horizontes. Embora a mudança do ambiente terapêutico deve ser estudada mais a fundo e não imposta a todos os profissionais, seus benefícios não devem ser ignorados.

Finalmente, percebemos que as abordagens Cognitivo-Comportamentais se destacam na adaptação para a modalidade online, tornando-se excelentes opções de especialização para aqueles profissionais que desejam trabalhar com psicoterapia via internet.

Ana Beatriz Zugman
Equipe do IPTC

Referências:
Cuijpers, P., Marks, I. M., van Straten, A., Cavanagh, K., Gega, L., & Andersson, G. (2009). Computer-aided psychotherapy for anxiety disorders: A meta-analytic review. Cognitive Behaviour Therapy, 38(2), 66-82. doi: 10.1080/16506070802694776

Day, S., & Schneider, P. (2002). Psychotherapy using distance technology: A comparison of face-to-face, video, and audio treatment. Journal of Counseling Psychology, 49(4), 499-503. doi:10.1037//0022-0167.49.4.499

Fishkin, R., Fishkin, L., Leli, U., Katz, B., & Snyder, E. (2011). Psychodynamic treatment, training, and supervision using internet-based technologies. Journal of the American Academy of Psychoanalysis and Dynamic Psychiatry, 39(1) 155-168. doi: 10.1521/jaap.2011.39.1.155.

Pieta, M. A. M., & Gomes, W. B. (2014). Psicoterapia pela Internet: viável ou inviável? Psicologia: ciência e profissão, 34, 18-31. Recuperado em 29 de julho de 2024, de https://doi.org/10.1590/S1414-98932014000100003

Pinto, Elza Rocha. (2002). As modalidades do atendimento psicológico on-line. Temas em Psicologia, 10(2), 168-177. Recuperado em 29 de julho de 2024, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2002000200007&lng=pt&tlng=pt.