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10/06/2019Os Estados Unidos (FDA) Aprovou o Spray Nasal da Esquetamina (Spravato) para o Tratamento da Depressão Crônica
No final de fevereiro de 2019, um painel independente de especialistas do FDA endossou o uso do spray nasal da esquetamina em adultos com depressão resistente ao tratamento com outros medicamentos. O antidepressivo de ação rápida foi desenvolvido pela Janssen Pharmaceutical Companies of Johnson & Johnson. Apesar do FDA não ser obrigado a atender as recomendações do painel, a agência considerou positivamente a indicação e aprovou o uso do spray já no início de março.
Após uma votação com 14 votos a favor, dois contra e uma abstenção, o Comitê Consultivo sobre Manejo de Segurança e Riscos das Drogas concluiu que os benefícios da esquetamina superam os riscos. O representante dos consumidores no painel votou contra a autorização de venda, por considerar que os testes podem ser insuficientes.
O voto do comitê foi baseado na segurança e efetividade da esquetamina demonstrados em cinco estudos de fase 3 em pacientes tratados para depressão resistente aos tratamentos convencionais. Foram três estudos duplo-cego controlados por placebo de curta duração; um estudo aberto randomizado para avaliar a manutenção da eficácia após a retirada do spray e um estudo aberto de efetividade e segurança de longa duração. Para participar do estudo, foi requerido aos pacientes que não tivessem resposta ao tratamento com dois ou mais antidepressivos orais diferentes. Em todos os estudos os pacientes foram designados, ou ao grupo de esquetamina mais um antidepressivo oral, ou ao grupo placebo mais um novo curso com um antidepressivo oral eficaz.
O tratamento com spray nasal de esquetamina, mais o uso recém iniciado de um antidepressivo oral, foi associado a uma rápida redução dos sintomas depressivos quando comparado ao grupo controle nos estudos de curta duração. A velocidade de ação da esquetamina ocorreu em poucos dias, quando leva de seis a oito semanas para um antidepressivo convencional. Também foi observado o aumento do tempo de recaída dos sintomas depressivos com o uso de spray mais um antidepressivo novo recém iniciado. O laboratório afirma que a molécula permite combater os pensamentos suicidas.
O perfil de segurança da esquetamina foi avaliado por dois estudos, um de curta e um de longa duração. Ambos concluíram que o medicamento foi bem tolerado nesses pacientes com depressão resistente. Os efeitos adversos mais frequentes foram sedação excessiva, dissociação e aumento da pressão arterial. Os sintomas apareceram no geral até duas horas seguintes à administração nasal. A concentração sanguínea máxima ocorre 40 minutos após a aplicação.
A esquetamina é um antagonista do receptor N-metil-D-aspartato do glutamato (NMDA). Ela é um composto similar a ketamina, usada como anestésico em humanos e animais. Mas também é conhecida como um narcótico com potencial de uso recreativo. Devido ao seu efeito de causar experiências “saída-do-corpo” e alucinações, alguns especialistas tem expressado preocupações sobre os riscos de abuso da esquetamina. O material submetido ao FDA pela Janssen afirma: “Apesar do potencial de abuso, mal-uso e uso recreativo existente da esquetamina, devido ao perfil farmacológico semelhante ao da ketamina, não existem evidências de abuso ou superdosagem observadas durante o programa de desenvolvimento da esquetamina para a população com depressão resistente a tratamentos”. Existe a ressalva que os pacientes com antecedente de transtornos moderados ou graves de uso de substâncias foram excluídos dos estudos realizados. Mesmo assim o FDA restringiu a distribuição do remédio, devido aos “riscos de abuso” do medicamento.
O FDA propôs uma Estratégia de Avaliação e Mitigação de Riscos (REMS) compreensiva, para garantir o uso seguro da esquetamina. Um elemento fundamental da REMS é que a administração da esquetamina seja realizada somente em ambientes de saúde onde os pacientes possam ser monitorados por duas horas após a administração. Além disso, o produto não deve ser dispensado diretamente e orientou a constituição de um registro obrigatório de seguimento de todos os pacientes. Essa última medida é para melhor caracterizar os riscos associados à administração da esquetamina nasal.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), quase 300 milhões de pessoas sofrem de depressão, uma doença que limita a capacidade de uma vida cotidiana normal, mas que tem sua gravidade frequentemente subestimada ou confundida com uma tristeza passageira. Os casos de depressão podem ser avaliados em leve, moderado ou grave. Entre os últimos, pode ocorrer o suicídio. Estima-se que em 2020 a depressão possa ser a doença mais incapacitante do mundo. Os antidepressivos orais produzem, em média, uma melhora dos sintomas depressivos de 60% a 70% dos casos. Cerca de 50% dos pacientes não respondem à primeira medicação antidepressiva, empregada em dose e por tempo adequados, em geral seis meses. Podem ser então indicadas substituição por um medicamento diferente, otimização, combinação ou medidas de potencialização de efeito. Uma resposta inadequada ou ausência de resposta a mais de dois antidepressivos define a depressão como resistente ao tratamento.
O spray nasal de esquetamina recebeu do FDA as designações de terapia inovadora para depressão resistente ao tratamento em 2013 e para transtorno depressivo maior com risco de suicídio em 2016. A designação “terapia inovadora” proporciona agilidade para o processo decisório. Também pode ser empregada a outros tratamentos especializados, como os pesquisados pela oncologia. No Brasil, é esperado que a ANVISA autorize a comercialização do Spravato ainda em 2019.