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07/10/2019A SAÚDE MENTAL MASCULINA
No último Encontro Anual da Associação Americana de Psiquiatria foi apresentada uma mesa sobre a saúde mental masculina, com realce do papel da testosterona. Apesar de vitais, esses temas são relegados frequentemente a um segundo plano. O declínio da testosterona sérica (hipogonadismo funcional) pode causar uma variedade de sintomas psiquiátricos. E é também fator de risco para a obesidade, diabetes, alterações cardiovasculares e disfunção erétil. Os homens também apresentam um período pós-parto raramente lembrado, onde ocorrem níveis mais baixos de testosterona e maior incidência de depressão. Os homens tem uma barreira para se queixarem de sintomas emocionais, o que limita o acesso a uma atenção à saúde de qualidade.
Apesar de sua importância, a dosagem da testosterona raramente é solicitada durantes nas avaliações psiquiátricas. Os sintomas de níveis baixos de testosterona podem ser confundidos como sendo condições psiquiátricas “primárias”. Os sintomas mais frequentes são o humor deprimido, dificuldades de concentração, desmotivação e insônia. Muitas vezes os sintomas não se caracterizam propriamente com os de um quadro típico, o que pode dificultar o diagnóstico adequado. O hipogonadismo é mais frequente em homens mais velhos e obesos. A prevalência pode ser até de 38,7% em homens com mais de 45 anos de idade e os níveis de testosterona decrescem 1% ao ano, a partir dos 30 anos de idade. A detecção precoce da deficiência de testosterona permite intervenções como mudanças de estilo de vida e encaminhamento para reposição hormonal, nos casos graves.
Alguns estudos confirmaram a associação de baixa testosterona com a depressão, entretanto existem outros que não. Um recente estudo de metanálise favoreceu a associação da testosterona baixa com sintomas depressivos refratários ao tratamento usual com antidepressivos. E um trabalho recente, com homens que buscavam atendimento para depressão em serviços de atendimento ambulatoriais psiquiátricos, demonstrou existir nessa população uma alta prevalência de níveis baixos de testosterona.
A testosterona é o hormônio esteroide sexual masculino primário, influencia o desenvolvimento dos tecidos masculinos reprodutivos (testículos e próstata), promove o desenvolvimento das características sexuais secundárias (aumento da massa muscular e óssea, crescimento de pelos) e previne o aparecimento da osteoporose. Secretado pelos testículos, ele é sintetizado a partir do colesterol e catabolizado em metabólitos inativos no fígado.
Existem receptores androgênicos no cérebro, onde a testosterona influencia a memória, orientação espacial e a atenção. A testosterona está relacionada com aumento da liberação da serotonina no núcleo da rafe dorsal. Já existe alguma evidência que níveis baixos de testosterona são fatores de risco para problemas de saúde mental, declínio cognitivo e possivelmente para transtornos demenciais maiores.
Uma conduta conservadora pode ser realizada em homens com sintomas depressivas em clínicas psicológicas e psiquiátricas ambulatórias. Se eles não responderem ao tratamento usual ou se for constatado a diminuição de pensamentos com temas sexuais (libido), diminuição da frequência da ereção matinal ou a presença de disfunção erétil, pode ser solicitado uma dosagem da testosterona total sérica. Ela deve ser matinal e repetida para confirmar o hipogonadismo funcional, quando menor que 300 mg/ml. Pode então ser necessário o encaminhamento para um urologista. Este pode solicitar dosagens complementares, como da prolactina, LH e FSH. Durante o exame físico ele avaliará a massa muscular, a presença de ginecomastia e a ocorrência de diminuição do tamanho das gônadas.
Existem mudanças de estilo de vida que são poupadoras de testosterona. Por exemplo, o controle da obesidade pode elevar os seus níveis. Para o psiquiatra é importante orientar a perda de peso. Alguns medicamentos devem ser evitados, como os opioides para o controle da dor e os inibidores de recaptação da serotonina. Para a depressão, preferencialmente devem ser utilizadas a bupropiona e a mirtazapina. A risperidona e outros antipsicóticos podem aumentar a prolactina e diminuir a testosterona, o que ocorre menos com o aripripazol.
A utilização de reposição de testosterona é controversa em homens. Existe um possível aumento do risco para AVC e IAM em homens mais velhos. Por outro lado, níveis baixos de testosterona também são fatores de risco para doenças cardiovasculares e a reposição de testosterona pode diminuir colesterol, gordura abdominal, resistência a insulina e a mortalidade geral. A indicação deve ser realizada individualmente para cada paciente. Não existe confirmação que a de reposição de testosterona cause câncer de próstata. As contraindicações são o câncer de mama masculino, o câncer de próstata, anemia, apneia do sono e história prévia de doença cardiovascular ou AVC.
REFERÊNCIAS
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