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28/03/2024Hoje, vamos explorar um dos temas mais controversos, fascinantes e, por vezes, negligenciado na Psicologia: o livre-arbítrio. Antes de mergulharmos nessa discussão, precisamos entender o significado desse conceito.
O livre-arbítrio refere-se à capacidade de tomar decisões conscientes e autônomas, independentemente de influências externas ou causas internas preestabelecidas. É frequentemente considerado uma característica exclusiva dos seres humanos.
Para ilustrar, vejamos alguns exemplos de livre-arbítrio encontrados na internet: a escolha entre dois lançamentos de livros, a decisão sobre qual carreira profissional seguir ou qual restaurante frequentar à noite. Mesmo quando exercemos nosso livre-arbítrio, somos influenciados por nossas crenças, valores, estado emocional e contexto social.
Em vez de considerarmos o livre-arbítrio como um conceito binário (presente ou ausente), podemos visualizá-lo como um continuum. No extremo superior desse continuum, encontramos o exercício máximo do livre-arbítrio, onde as escolhas são feitas com total consciência e independência. Por outro lado, no extremo inferior, temos a ausência total de livre-arbítrio, como nos algoritmos de máquina, onde as decisões são estritamente determinadas por regras predefinidas. O livre-arbítrio das pessoas distribui-se entre esses dois pontos extremos.
O livre-arbítrio também está intrinsicamente ligado à responsabilidade pessoal, sendo a base do direito penal. E o que a psicologia tem a dizer sobre ele?
No geral, as escolas clássicas de psicoterapia são deterministas, não considerando o livre-arbítrio como um conceito válido. Para a psicanálise, as escolhas são determinadas por conflitos inconscientes, e os processos conscientes seriam apenas reflexos superficiais desses conflitos. De forma semelhante, os terapeutas comportamentais não valorizam as escolhas conscientes. Eles focam no comportamento observável, determinado por contingências ambientais, e as escolhas subjetivas seriam descartáveis para o interior de uma “caixa preta”. Por sua vez, a psiquiatria biológica também minimiza a importância da vida consciente, atribuindo aos estados genéticos e neuroquímicos inconscientes a determinação do humor e das decisões das pessoas.
O psicanalista, ao buscar profundidade, o terapeuta comportamental, que valoriza a objetividade e o psiquiatra estudante da biologia abordam aspectos fundamentais da vida mental. Na verdade, todos eles, sem abandonar seus princípios, enriquecem suas abordagens com as contribuições da ciência cognitiva.
Entres as abordagens em saúde mental, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) destaca-se por não ser determinista. Seu foco no pensamento e desejo conscientes é como uma lufada de ar fresco. Embora o pensamento inflexível automático limite as escolhas conscientes, ele não as determina necessariamente. As pessoas mantêm a opção de acreditar, em maior ou menor grau, na validade desses pensamentos ou em alternativas mais adaptados às suas realidades. A TCC ensina as pessoas a desenvolverem a habilidade de determinar conscientemente seus comportamentos. A TCC promove a responsabilidade e um grau maior de livre-arbítrio na vida das pessoas.
Salmo Zugman
Instituto Paranaense de Terapias Cognitivas
Referência
Cognitive Therapy and The Emotional Disorders. Aaron T. Beck. Meridian Book, 1979. New York
Post Script Um livro recente discute a validade do livre arbítrio: Determined, a Science of Life Without Free Will. Robert M. Sapolsky. Penguin Press, 2023. New York