Reestruturação Cognitiva: Como Aplicar com Seu Paciente
30/11/2021Reestruturação Cognitiva: Exercícios mais importantes
03/12/2021A entrevista cognitiva é uma técnica utilizada pela Terapia Cognitivo-Comportamental para fornecer o maior número de informações referentes aos principais pontos dos pacientes trabalhados nas sessões. É por meio dela que o terapeuta consegue se munir de informações que sejam complementares para estruturação de um plano de intervenção que guiará o tratamento.
É importante entender que ela não se trata de um interrogatório, pois o terapeuta deve guiar o paciente em uma espécie de jornada para que as respostas das perguntas sejam dadas de forma completa e detalhada.
Este artigo irá te explicar o conceito de entrevista cognitiva e as etapas necessárias para que ela seja feita de forma assertiva.
O que é a entrevista cognitiva
A Entrevista Cognitiva (EC) é um processo em que uma série de técnicas são aplicadas para potencializar a quantidade e qualidade das informações que são compartilhadas pelo paciente.
Ela foi elaborada, inicialmente, no contexto forense, pelos psicólogos Ronald P. Fisher e Edward Geiselman, através da tentativa de aprimorar as técnicas que os policiais americanos usavam para o recolhimento dos depoimentos de vítimas, testemunhas e suspeitas (Geiselman, Fisher, MacKinnon & Holland, 1985). Nesse contexto, ela surgiu como base em duas grandes teorias: Psicologia Cognitiva e a Psicologia Social.
De acordo com os estudos publicados posteriormente por Paulo, Albuquerque e Bull (2014), a Entrevista Cognitiva que conhecemos hoje pode ser aplicada em crianças, adultos e idosos. Além disso, ela consegue ser eficaz para ajudar o paciente a relatar episódios a serem recordados e em diferentes intervalos de tempo — de dias até semanas.
Ao longo dos anos, viu-se que essa técnica seria também útil para a Terapia Cognitivo-Comportamental, por representar uma alternativa eficaz de integrar uma prática efetiva com sólidos fundamentos científicos, no contexto de uma abordagem que é eminentemente prática, contendo outras técnicas que são baseadas em consistentes parâmetros provenientes de âmbitos teóricos e práticos.
Dessa forma, pode-se considerar que a entrevista cognitiva trabalha dois principais pontos: a memória/cognição em geral e a dinâmica social/comunicação (Fisher & McCauley, 1995).
Para que serve a entrevista cognitiva
A entrevista cognitiva pode ser utilizada também para as demandas da Psicologia Forense. Como seus primórdios surgiram justamente do cenário judicial, a entrevista cognitiva pode ser aplicada nesse contexto para um depoimento mais completo da testemunha.
É uma técnica bem valiosa para a investigação criminal. Ela fornece informações pertinentes para o melhor entendimento do caso, uma vez que ajuda os envolvidos na situação a se lembrarem de pontos chave para a resolução do caso.
Etapas da entrevista cognitiva
A estrutura da entrevista cognitiva é composta por 7 etapas, compostas por técnicas específicas, fundamentadas em diferentes princípios teóricos. São elas:
Etapa 1 – Estabelecimento de Rapport
A primeira etapa tem como objetivo diminuir a ansiedade e tensão envolvidos naquele contexto. É com base no estabelecimento de rapport que o paciente/testemunha conseguirá se sentir confortável para compartilhar qualquer tipo de informação.
O terapeuta ou entrevistador deve ser empático, oferecer suporte e evitar expressar sinais de crítica e desaprovação. Além disso, é importante que ele construa um ambiente personalizado, ou seja, transmita a ideia de singularidade daquele processo.
Etapa 2 – Explicação dos objetivos
Após construir um espaço confortável para a conversa, é importante que o terapeuta/entrevistador explique ao paciente/testemunha sobre o trabalho que será realizado. Dessa forma, consegue alinhar os objetivos propostos.
Nesse momento, ele deverá esclarecer ao paciente/testemunha de que se trata de um processo de troca. Ou seja, que uma postura passiva não seria produtiva, uma vez que ele é o protagonista da história.
Etapa 3 – Relato livre
É aqui que tudo começa a acontecer de fato. É o momento em que o resgate de lembranças inicia, tendo como objetivo elucidar os traços armazenados na memória que foram produzidos a partir da relação entre percepção sensorial e os comportamentos emitidos nas situações em questão.
É importante que seja estabelecido um ambiente controlado e livre de distrações, para que seja maximizada a concentração do entrevistado.
Etapa 4 – Questionamento
A quarta etapa foca na análise do discurso emitido pelo paciente/testemunha para o consequente aprofundamento, que tem como objetivo primordial preencher quaisquer lacunas presentes na narrativa. O cuidado deve ser, nesse caso, de não influenciar o discurso do outro, além de não interromper o fluxo de pensamento do paciente/testemunha.
Etapa 5 – Recuperação variada e extensiva
Existem alguns fatos que parecem estar numa parte inacessível da memória e é justamente por isso que essa etapa é fundamental. Nela, o entrevistador/paciente utilizará estratégias para solicitar que a situação seja relatada de diversas formas, pedir que o entrevistado se coloque no lugar de outra pessoa que tenha passado pelo mesmo evento e descreva-o sob esta nova perspectiva, focalizar em diferentes aspectos sensoriais da experiência, entre outros (Fisher, Brennan & McCauley, 2002).
Etapa 6 – Síntese
O entrevistador/terapeuta irá ter, nesse momento, um grande número de informações e, para isso, precisará organizá-las. Ele irá compartilhar esse resumo com o paciente/testemunha, para que ele seja capaz de rever as palavras ditas e ter a última oportunidade de complementar o relato com mais algum dado que possa ter lembrado.
Etapa 7 – Fechamento
Para finalizar a entrevista cognitiva, é interessante que o terapeuta deixe o paciente com uma imagem positiva da entrevista. Então, agradeça pelo esforço durante o processo e ressalte a importância do papel ativo dele. É igualmente fundamental que o terapeuta se coloque à disposição para responder eventuais perguntas, demonstrando respeito e consideração.
Esse feedback final é algo extremamente valioso para a TCC. É o momento em que os ajustes necessários para o bom andamento da terapia possam ser realizados, pois terapeuta e paciente serão conhecedores daquilo que necessita ser melhorado.
A entrevista cognitiva, quando aplicada seguindo as etapas descritas neste artigo, tem uma eficácia excelente para o tratamento de pacientes.
Esses pacientes conseguem, a partir da recuperação de memórias, entender fatores que possam estar sendo determinantes para os comportamentos disfuncionais que provocam os sintomas. Além disso, é uma técnica que também consegue ser usada no campo forense para a construção de um caso mais forte e completo.
Levando seus tratamentos para um próximo patamar
Como você viu no texto, a entrevista cognitiva é muito utilizada dentro da Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC). E que tal você se tornar um especialista em TCC para poder impactar ainda mais a vida de seus pacientes?
O IPTC conta com um curso de Terapia Cognitiva-Comportamental totalmente voltado para a prática! Você terá aulas sobre o assunto com uma estrutura e metodologia validadas por nossos + 1.000 alunos.
Conheça mais sobre o nosso curso!