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24/07/2021Por mais que não percebamos, o cérebro está, a todo momento, desempenhando funções executivas e cognitivas. Desde o momento em que acordamos até a hora de dormir, o cérebro permanece atento, iniciando o planejamento de ações e na elaborando objetivos a serem alcançados durante todo o nosso cotidiano.
O centro das funções executivas do nosso cérebro é o lobo frontal, o maior responsável pelos atos cognitivos, comportamento e atividades emocionais. Uma analogia mais fácil para entender, é pensá-lo como se fosse o CEO, responsável por conduzir as funções executivas, para que o sujeito tenha uma saúde mental de qualidade e, consequentemente, uma vida funcional.
É papel dos pais o acompanhamento de cada etapa da vida dos seus filhos, estando por perto no desenvolvimento e, consequentemente, nas descobertas que fazem ao longo da vida. Trabalhar as habilidades e funções executivas é uma das maneiras de realizar esse acompanhamento, além de ajudar na potencialização do aprendizado.
Continue a leitura para conhecer mais sobre o papel das funções executivas.
O que são as funções executivas?
Muriel Lezak foi a responsável por propor, pela primeira vez, o conceito de funções executivas, no ano de 1982. Ele foi divulgado a partir de uma pesquisa feita por ela, que conseguiu comprovar o vínculo entre as funções executivas das estruturas pré-frontais do cérebro, como o córtex, um dos encarregados pelo desempenho motor e psíquico.
Não há um consenso sobre a definição do que sejam as funções executivas, conhecidas também por FEs. Normalmente são definidas pela literatura como o conjunto de habilidades e capacidades que permite o sujeito executar ações necessárias para atingir um objetivo.
Nesse cenário, podemos entender que as funções executivas como um mecanismo de controle cognitivo que direciona e coordena o comportamento humano de maneira adaptativa, permitindo mudanças rápidas e flexíveis ante as novas exigências do ambiente (Zelazo et al., 2003).
Elas são compostas por competências interrelacionadas e de alto nível de processamento cognitivo, cujo impacto se reflete no funcionamento afetivo-emocional, motivacional, comportamental e social.
São elas:
- Autocontrole
O autocontrole é uma das funções executivas que atua em sintonia à concentração, o foco e a atenção. Entre todas as habilidades executivas, o autocontrole ajuda na tomada de decisões não impulsivas e no planejamento de ações realizadas em um período de tempo.
Dessa forma, é também responsável por inibir os comportamentos ou rotinas que possam ser consideradas como automáticas, bem como as que sejam mais controladas. Um exemplo de bom funcionamento das funções executivas é o comportamento de conseguir se controlar e não usar o celular enquanto precisa estudar para uma prova.
- Flexibilidade Cognitiva
A capacidade de pensar além do óbvio, usando o pensamento criativo e se permitindo realizar ajustes flexíveis, com o objetivo de se adaptar de forma mais saudável às mudanças é o que podemos entender como flexibilidade cognitiva.
Considerada como o planejamento de estratégias para realização de uma tarefa, essa capacidade está intimamente ligada ao aprendizado, visto que estimula o funcionamento da região frontal do cérebro. É a função responsável por ajudar o sujeito a conseguir utilizar a imaginação e criatividade para resolver problemas.
O desenvolvimento da flexibilidade cognitiva depende da evolução prévia da memória de trabalho e da inibição cognitiva, visto que mudar de perspectiva requer a inibição da forma de pensar utilizada anteriormente, além da inserção de uma nova forma de analisar a questão, através da memória de trabalho.
- Memória de trabalho
A memória de trabalho é responsável por armazenar todas as informações necessárias para que o sujeito seja capaz de executar uma atividade. Graças a ela, conseguimos manter as informações na mente e, além disso, manipulá-las.
Ela pode ser entendida como resultado das outras duas funções comentadas anteriormente, potencializando a organização de ideias. Por meio dela, durante um momento de concentração, o cérebro une o raciocínio lógico aos diferentes pensamentos que surgem no processo. Assim, ele processa respostas para as diversas situações e tarefas.
Trata-se de uma habilidade extremamente necessária para realizar tarefas cognitivas. Alguns exemplos disso é no estabelecimento de uma relação entre dois assuntos, elaboração de cálculos apenas com a mente e definição de uma ordem de prioridade entre várias atividades.
Qual é a diferença entre funções executivas nucleares e complexas?
Miyake e alguns colaboradores, por volta de 2000, se apoiam na análise fatorial confirmatória para avaliar a real validade do modelo proposto por ele, como forma de combater o problema de impureza nas tarefas executivas em adultos.
A revisão de literatura feita por eles foi responsável pela descoberta de que os componentes executivos mais comuns eram:
- a flexibilidade mental;
- a atualização/memória de trabalho (monitoramento e manutenção da informação);
- a inibição (inibição de respostas prepotentes).
Além disso, ainda de acordo com a descoberta dessa pesquisa, evidenciou-se que esses três fatores são bem circunscritos, além de poderem ser operacionalizados de maneira bastante precisa. Ainda que sejam moderadamente correlacionados, os três componentes são construtos separados, sugerindo o caráter unitário, porém diversificado, dos componentes do sistema executivo.
Diamond (2013) aponta o modelo proposto por Miyake e amplamente aceito em estudos neuropsicológicos como norte para diferenciação entre as funções executivas complexas e nucleares.
Logo, podemos definir as funções executivas nucleares como sendo as principais, representadas pela flexibilidade cognitiva, autocontrole e memória de trabalho. Elas seriam, então, a base de outras FEs mais complexas, como planejamento, solução de problemas e raciocínio abstrato, dentre outras.
Para que servem as funções executivas?
O desenvolvimento das funções executivas permite que o sujeito aprenda a construir reflexões próprias, tendo autonomia para a tomada de decisão nos diversos aspectos da vida.
As funções executivas são compostas por habilidades que compreendem processos cerebrais que possibilitam lembrar e associar diferentes informações, rever a forma de pensar, planejar e filtrar distrações. Dessa forma, se não há o bom funcionamento das funções executivas, torna-se difícil para o indivíduo se concentrar em seus pensamentos, a fim de organizá-los e planejá-los de forma criativa e única.
Um indivíduo que tenha prejuízo nas funções executoras terá dificuldades para a realização de atividades diárias como administração de rotinas (relacionadas à organização, antevisão, priorização de atividades, movimentação de objetos no espaço e à duração e sequência de atividades no tempo), formulação, execução e avaliação de projetos e resolução de problemas.
As funções executivas são amplamente estudadas ao redor do mundo e diversos estudos apontam que o bom funcionamento das funções executivas na infância está associado ao melhor desempenho na vida acadêmica. A realização profissional, bem como a saúde física, também são resultados frequentemente associados à aquisição de funções executivas.
Treinar as funções executivas consequentemente faz o sujeito treinar as funções cognitivas, tendo em vista que esses conjuntos de habilidades estão interligados. Além disso, o potencial de aprendizagem pode ser otimizado. Dessa forma, o cérebro recebe bem os estímulos necessários para o seu processo de desenvolvimento, seja no âmbito acadêmico ou corporativo.
Como trabalhar na escola com alunos?
A escola é responsável por ser a ponte para o aprendizado dos alunos, principalmente das crianças. É na escola que o sujeito estabelecerá o primeiro contato com vários temas, pessoas e elementos diferentes. Sendo assim, é um ambiente que também atua como co-responsável pelo desenvolvimento das funções executivas.
O corpo docente e pedagógico deve, então, se preparar para ajudar o sujeito a conseguir ter os elementos suficientes para aprender o que é proposto. Nesse sentido, é possível trabalhar as funções executivas com os alunos com base na realização de atividades de memorização, de solução de problemas e dos pontos. Inicialmente, esses temas são tratados nas FEs nucleares.
A partir disso, trabalha-se, em paralelo, as FEs complexas à medida em que a criança avança pelas fases escolares. Visto que são criados contextos compatíveis com o avanço realizado.
Assim, torna-se imprescindível que os alunos com quaisquer necessidades especiais consigam tornar o ensino adaptável. Dessa forma, o sujeito consegue receber as mesmas informações, porém respeitando o modo e o tempo para aprendizado individual.
De forma geral, a escola consegue apoiar os alunos no desenvolvimento das funções executivas ao:
- Estabelecer objetivos;
- Planificar, gerir, predizer e antecipar tarefas, textos e trabalhos;
- Priorizar e ordenar tarefas no espaço e no tempo para concluir projetos e realizar testes;
- Organizar e hierarquizar dados, gráficos, mapas e fontes variadas de informação e de estudo;
- Separar ideias e conceitos gerais de ideias acessórias ou de detalhes e pormenores;
- Pensar, reter, manipular, memorizar e resumir dados ao mesmo tempo em que leem, etc. (FONSECA, 2014).
As funções executivas estão relacionadas a praticamente todos os aspectos da nossa vida, tendo seu desenvolvimento como essencial desde a infância. Contudo, o comprometimento delas, nos seus diferentes níveis, não tende a ser fatal, pois pode ser acompanhado por profissionais da saúde para potencialização da qualidade de vida. Dessa maneira, é feito com base na adaptação de tarefas e estímulos destinados ao aprendizado dessas habilidades.
Como elas estão relacionadas à resolução de problemas, armazenamento de informações e inibição de comportamentos automáticos, as funções executivas acabam estando presente em diferentes dimensões da vida das pessoas.
Dessa forma, um bom funcionamento executivo é sinônimo de qualidade de vida. Ou seja, mais saúde física e mental, bem como melhor aproveitamento escolar e realização profissional.
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