Retrospectiva 2017
21/02/2018O que é a Terapia do Esquema
19/03/2018A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), desenvolvida por Aaron Beck e seus colaboradores, é muito disseminada e a que mais foi submetida aos estudos de eficácia. Outras abordagens conhecidas são a Terapia Racional Emotiva Comportamental (TREC), de Albert Ellis e a Terapia Construtivista de Michael Mahoney.
A Terapia Cognitivo-Comportamental, no entanto, é uma das mais utilizadas pelos profissionais da saúde. Ela reúne uma série de técnicas e faz com que a relação terapeuta-cliente tenha uma boa eficácia.
Quer saber o que é a TCC, como funciona, suas técnicas e benefícios de utilizar? Continue a leitura.
O que é a Terapia Cognitivo-Comportamental?
As terapias cognitivas tiveram um papel essencial no recente avanço de intervenções psicológicas serem reconhecidas como tratamentos cientificamente comprovados. Não existe uma psicoterapia cognitiva única.
Portanto, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma psicoterapia orientada para o presente, empática, integrativa, estruturada e sensível ao tempo. Está direcionada para solucionar problemas atuais e ensinar os clientes a desenvolverem habilidades para modificar pensamentos conscientes e comportamentos disfuncionais. Essa mudança cognitiva e comportamental conduz à melhora dos sintomas e do funcionamento pessoal.
Quais doenças ela pode tratar?
A TCC hoje é tratamento de primeira escolha para diversos transtornos psiquiátricos, entre eles a depressão, transtorno do pânico, fobia social, fobias específicas, TOC, transtorno do estresse pós-traumático, transtornos de uso de substâncias, transtornos alimentares e transtorno bipolar. Também estudada em populações especiais: crianças e adolescentes, idosos, casais, insônia, controle da raiva, risco de suicídio, obesidade e adaptada para grupos.
Os primeiros protocolos da Terapia Cognitivo-Comportamental , desenvolvidos para estudos de eficácia, eram de curta duração. Com duração média de cinco meses ou 20 sessões. Na prática diária, os terapeutas não estão submetidos a essa limitação. Em diversas situações a TCC pode assumir características de média ou longa duração. Por exemplo, na presença de comorbidades, nos pacientes com esquizofrenia e nos transtornos de personalidade.
Como funciona a Terapia Cognitivo Comportamental?
A conceituação de caso é realizada de acordo com o modelo cognitivo. Ou seja, o modo como os indivíduos percebem uma situação está relacionada mais com suas reações, do que a situação propriamente dita. Esse modelo tem como base uma máxima estóica “Não são os acontecimentos em si a causa de nossos sofrimentos, mas os significados atribuídos a eles”. Essas atribuições, principalmente quando feitas de forma automática e não reflexiva, podem ser não realistas ou disfuncionais.
A conceituação cognitiva serve como parâmetro integrador. Durante a terapia são empregadas várias técnicas cognitivas, como a psicoeducação sobre o transtorno e a identificação automáticos e distorções cognitivas. Algumas das técnicas comportamentais utilizadas são o monitoramento, a ativação e a exposição comportamental. Sempre de acordo com o modelo, podem ser integradas técnicas de resolução de problemas, Gestalt, mindfulness e da psicologia positiva. Nos casos de transtornos de personalidade, a terapia psicodinâmica.
Como são as sessões de TCC?
As sessões da TCC possuem uma estrutura interna. A sessão começa com uma recapitulação de eventos da semana anterior e das tarefas realizadas fora da sessão. Essas tarefas ampliam o aprendizado nos intervalos entre as sessões e estão relacionadas a um bom resultado.
Um agendamento de pontos a serem abordados na sessão atual é realizado colaborativamente. Os temas são então abordados e o último assunto costuma ser uma discussão das metas a serem realizadas até a próxima sessão. As solicitações de feedbacks são frequentes e a sessão termina com um sumário.
A estrutura da terapia reduz a ansiedade, estimula a organização e o trabalho produtivo e serve para orientar o paciente sobre o que esperar da terapia. A estrutura não é inflexível e pode ser modificada para cada cliente ou situação em particular.
Qual é sua estrutura de tratamento?
1ª Fase – Avaliação e diagnóstico
A Terapia Cognitivo-Comportamental também tem uma estrutura longitudinal, de começo, meio e fim. Ela inicia com um período de avaliação, seguido das sessões necessárias para a formulação diagnóstica, conceituação cognitiva e socialização no modelo cognitivo. O paciente é visto como um coterapeuta.
A conceituação é desenvolvida de forma colaborativa e compartilhada com o cliente. Ela é considerada essencial para o resultado da terapia e serve para integrar as diferentes técnicas a serem empregadas. São então estabelecidas colaborativamente as metas da terapia.
2ª Fase – Reestruturação cognitiva
A segunda fase da terapia é a dedicada para a reestruturação cognitiva e mudança de padrões comportamentais vistos como fatores de manutenção. Essa é a fase de mais longa terapia, com o cliente assumindo cada vez mais participação sobre os rumos da terapia.
3ª Fase – Esquemas
O terço final da terapia é reservado para intervenções com os esquemas. Os esquemas são as estruturas cognitivas mais profundas. Eles podem se estabelecer na primeira infância e orientam as maneiras como as experiências de vida e emoções podem ser percebidas, organizadas e memorizadas posteriormente.
Os esquemas mais relevantes para a terapia são os que codificam e processam as representações sobre o self e o sobre os outros. Eles estão relacionados com os comportamentos interpessoais. Todos temos nossos esquemas. Mas eles são considerados mal adaptativos, quando rígidos em demasia, abrangentes e vinculados a cargas emocionais negativas potentes.
Esses esquemas são ativados em situações problemáticas e são considerados fatores de vulnerabilidade para episódios de transtornos emocionais em geral. Um curso bem sucedido de TCC traz à superfície, além dos sintomas e problemas específicos, questões mais abrangentes e de longa duração. As relacionadas com os esquemas, que são então identificados e trabalhados com as técnicas aprendidas durante as fases anteriores da terapia.
A última sessão da terapia serve para estabelecer planos de enfrentamento das situações difíceis de vida, que possam representar fatores de risco de recaídas. Também são combinadas, o intervalo e frequência das sessões de seguimento.
Benefícios da Terapia Cognitivo Comportamental
A TCC apresenta eficácia equivalente ao tratamento medicamentoso para diversos transtornos psiquiátricos. Mas, os estudos demonstraram uma nítida vantagem de longo prazo para a TCC, a melhora dos pacientes é mais duradoura. Eles apresentam números menores de recaídas nos segmentos de longo prazo. Principalmente considerando os pacientes que interrompem o uso dos medicamentos.
Essa superioridade pode estar relacionada ao trabalho com esquemas ou ao desenvolvimento de planos de contingência para as situações desafiadoras. Mas deve ser considerada a possibilidade a influência de um grande objetivo da TCC: o de estimular os clientes a terem uma participação ativa e a colaborarem com o andamento da terapia.
Os sujeitos aprendem novas habilidades e adquirem a condição de se tornarem seus próprios terapeutas.Capazes de enfrentar as dificuldades de vida que ainda não apareceram. Sem dúvida, uma grande mudança de paradigma entre as intervenções em Saúde Mental.
Dessa forma, é possível destacar como alguns dos principais benefícios da TCC:
Comprovada cientificamente
A Terapia Cognitivo-Comportamental é uma das abordagens mais embasadas cientificamente, desde a sua origem ainda com Aaron Beck. Ele foi responsável por construir uma base teórica e as subsequentes práticas clínicas mostraram que a TCC “é realmente eficaz na redução de sintomas, comprovada pelo estudo realizado pelo psiquiatra brasileiro Paulo Knapp, publicado pela Revista Brasileira de Psiquiatria, em 2008, dentre diversos outros.
Promove o autoconhecimento
Por meio da TCC, o paciente consegue ter maior controle sobre os seus comportamentos e sentimentos, conseguindo administrá-los com mais confiança e facilidade. Nesse contexto, o autoconhecimento é estimulado na identificação de comportamentos e crenças disfuncionais. Logo, a pessoa consegue estar mais preparada para lidar com ideias negativas e emoções adversas, bem como o fortalecimento da autoestima.
Modifica o raciocínio e comportamento do paciente
Um dos principais objetivos da Terapia Cognitivo-Comportamental é devolver ao paciente a flexibilidade cognitiva, ou seja, permitir mudanças nas emoções e comportamentos emitidos pelo paciente. Para isso, o terapeuta irá atuar diretamente no sistema de esquemas e crenças do paciente, de forma a reestruturá-lo.
Ajuda a encontrar motivação
Através da relação de confiança estabelecida entre paciente e terapeuta, é possível entender quais seriam algumas das razões para a falta de motivação apresentada pelo indivíduo. A Terapia Cognitivo-Comportamental também apresenta um benefício nesse cenário, que é justamente as técnicas para identificação do que pode estar ligado a essa motivação, desde comorbidades quanto crenças disfuncionais que têm causado sofrimento mental àquele paciente.
É objetiva
Muitas pessoas gostam bastante da Terapia Cognitivo-Comportamental por ela ser prática e conseguir apresentar resultados em um período relativamente mais curto do que grande parte das abordagens.
O terapeuta faz uma análise inicial semelhante para a maior parte dos casos, que é justamente entender quais são as crenças disfuncionais e os pensamentos automáticos que fazem parte da vida do sujeito. A partir daí, a abordagem direciona para uma análise objetiva de cada um deles.
Melhora os relacionamentos interpessoais
Outro ponto forte da TCC é a promoção do desenvolvimento de habilidades sociais, com foco em aprimorar ou incentivar o início dos relacionamentos interpessoais. Por meio da TCC, o paciente irá se ver diante dos comportamentos que emite, conseguindo identificar e construir um repertório adequado, considerando as habilidades sociais também incentivadas.
Trata de pequenos problemas a distúrbios graves
A depressão, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), transtornos alimentares, estresse e traumas são alguns problemas tratados pela TCC. Ademais, Aaron Beck recomenda-a nos casos de síndrome do pânico, transtornos da personalidade, abuso de substâncias, problemas interpessoais, raiva, esquizofrenia, transtorno bipolar.
Técnicas da Terapia Cognitivo-Comportamental
É possível encontrar técnicas de Terapia Cognitivo-Comportamental que foram criadas para ajudar o terapeuta nas intervenções terapêuticas passadas ao cliente.
As técnicas de Terapia Cognitivo-Comportamental são as que demonstraram cientificamente ter grande eficácia na psicologia clínica. Essas técnicas se centram na modificação de pensamentos e comportamentos graças à aprendizagem de novas formas de pensar e agir mais adaptativas.
As técnicas de terapia cognitivo-comportamental são focadas no presente, embora o seu objetivo seja a aquisição de hábitos e habilidades que proporcionem um bem-estar e uma qualidade de vida superiores que perdurem no tempo.
Para quem a TCC pode ser útil e quais são as diferenças no tratamento?
A Terapia Cognitivo-Comportamental, bem como as outras abordagens, são tecnicamente capazes de trabalhar quaisquer tipo de transtorno apresentado pelo paciente. Contudo, é preciso haver comprometimento de todas as partes envolvidas na vida daquele paciente.
Assim, a TCC é recomendada para o tratamento de diferentes diagnósticos. Quanto ao tipo de público, ela também se torna bastante flexível.
TCC para crianças
No tratamento de crianças, por exemplo, as demandas são trazidas e, inicialmente, o terapeuta inicia as sessões mais ativamente, pedindo para que a criança mesmo seja responsável e esteja realmente ali para ele.
As crianças também gostam muito de brincadeiras e atividades lúdicas pois, dessa forma, conseguem desenvolver vários pontos do cérebro, para justamente evitar que algo saia do controle. As tarefas de casa são bem comuns nessa idade, como forma de incentivar a reflexão e a mudança comportamental.
TCC para adultos
Com os adultos, por outro lado, é possível ser mais direto e objetivo, fazendo intervenções mais incisivas. As tarefas de casa também são comuns e o contexto lúdico é substituído pelo diálogo e aplicação de diversas técnicas. Os adultos, muitas vezes, já chegam com uma demanda que eles mesmos perceberam em si, o que já os coloca, ainda que timidamente, como protagonistas do próprio tratamento.
Os adultos estão submetidos a uma carga de estresse normalmente muito intensa, causando certo desconforto ao longo do dia. A TCC para adultos irá evidenciar os comportamentos e crenças disfuncionais, de forma a permitir que o adulto consiga reconstruir o seu repertório comportamental.
TCC para idosos
Por fim, os idosos têm algumas particularidades no tratamento. O tratamento dos idosos normalmente é voltado para o desenvolvimento de habilidades sociais como forma de promoção da saúde mental, uma vez que podem ter sido afetados pelas mais diversas experiências e/ou comorbidades.
Dessa forma, independentemente da idade, tem-se que levar em consideração que cada paciente responderá de uma forma distinta. Existem pessoas que a partir da primeira sessão já se apaixonam pelo estilo de TCC, enquanto outras ainda preferem e precisam de um reforço positivo para dar tudo certo.
A Terapia Cognitivo-Comportamental é uma das diversas abordagens da Psicologia, sendo extremamente promissora no tratamento dos mais diversos casos. O uso correto das técnicas, por exemplo, é capaz de potencializar a qualidade de vida do paciente, que passa a construir autonomia sobre a própria vida.
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Salmo Zugman
Médico Psiquiatra – CRM 10.869
Diretor do Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva – IPTC
Terapeuta Certificado pela Federação Brasileira de Terapias Cognitivas
Fonte: Knapp, P & Beck, A. (2008). Fundamentos, modelos conceituais, aplicações e pesquisa da terapia cognitiva. Revista Brasileira de Psiquiatria, 30 (Supl II): S54-64.